O fato do projeto que descriminaliza o aborto e a consequente opinião de quem é contra (o que eu respeito) cabe algumas questões que vou inserir abaixo.
E no caso de anencefalia? E no caso do livre-arbítrio por parte da mulher que não quer conceber um bebê que foi fruto de um estupro? E a democracia num estado laico não vinculado à subserviência a religiosidades? E o seu direito de defender a vida e o direito de quem defende o aborto? Não seriam iguais? São apenas questionamentos. As sociedades mais inteligentes são aquelas que não deixam o emocional se sobrepor ao racional. Respeitar a sua opinião é a mesma de respeitar quem é a favor do aborto. São apenas questões, não é briga.
Eu sou kardecista, mas sigo aquela velha máxima de dar a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus. A laicidade do Estado deve ser preservada e as opiniões divergentes também. Senão podemos cair na ditadura dos dogmas, o que seria um perigo para a nossa sociedade.
Isso é fato. A democracia tem como pilar fundamental o Estado Laico e isso tem que ser respeitado. As leis não são feitas vinculadas a dogmas ou valores religiosos, mas baseadas em valores identificados com a laicidade e respeito às instituições que devem estar totalmente desvinculadas da religiosidade. É claro que como ser humano e defensor da vida eu me solidarizo com as pessoas que são contra o aborto, mas não dar o direito num Estado livre e democrático que a mulher, aquela que passa nove meses com a criança no ventre, escolha o que quer para a sua vida me soa como uma postura demasiadamente ditatorial. É o que eu digo, veja o retrocesso dos países árabes ou as altas taxas de suicídio nos países escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega), será que o Estado Religioso resolve alguma coisa? Tanto que os estados muçulmanos e luteranos estão sofrendo com os desvios psicológicos dos seus cidadãos vide a atitude repressora dos seus Estados.
E tem instituições hipócritas que no decorrer da História, e disso tenho propriedade para falar, sempre estiveram vinculadas ao absolutismo dos Estados, que se prendiam nas tais "verdades absolutas" da religiosidade para legitimar atos ímprobos e desvios de conduta dos governantes. Lutero só iniciou o protestantismo porque tinha interesses meramente políticos com os nobres alemães para tal. O catolicismo vendeu cargos e perdoou assassinos em troca de dinheiro e poder, vide mais contemporaneamente, o apoio ao nazifascismo. A verdade absoluta é a inimiga do desenvolvimento dos povos. Temos que relativizar a verdade, pois se ficarmos reféns de verdades absolutas podemos correr o risco de reativar valores conservadores da sociedade, o que seria um retrocesso.
Quem sou eu, ou você ou outrem que tem o direito e a moral de questionar a atitude legítima da mulher de abortar? Porque é só ela e não aqueles que estão de fora, quem sofre com as consequências de manter um bebê praticamente morto na barriga, consequências estas que podem gerar um óbito para a própria mulher, sabendo ainda que a criança não vingará. Por que dogmas, valores retrógrados e posturas mesquinhas tomam corpo numa sociedade hipócrita em demasia que não reconhece o enriquecimento ilícito de pastores, o genocídio de judeus e muçulmanos e ainda que o Vaticano pudesse vender todo o seu ouro para matar a fome na África, essa uma realidade muito mais urgente do que questionar o aborto?
Gente, nada contra defender o seu próprio ponto de vista. O que não dá é demonizar a opinião divergente. A divergência é salutar e amiga da inteligência. A verdade absoluta é ignorante e gera a discórdia.
Até porque sabemos muito bem o que o casamento religião/estado trouxe de retrógrado e pernicioso para a sociedade no decorrer da História. Esse casamento foi nocivo em todos os aspectos, principalmente para a cegueira intelectual que se desenvolveu nas sociedades.
Separar Estado de Religião é fundamental para o bem da sociedade. Religião é foro íntimo. Eu concordo ou discordo, tenho esse direito, mas no meu ambiente privado. Interesse público não pode estar vinculado à religião.
Se eu e minha esposa decidimos dar continuidade à "vida" é um direito que tem que ser respeitado, assim como se ambos decidem abortar, devem ter a sua postura respeitada também. A religiosidade é algo privativo, particular, jamais pode estar vinculada a questões públicas. O interesse público é laico e a Carta Magna prega por isso.
Ademais, casais adolescentes irresponsáveis que não querem assumir a sua responsabilidade ou que alegam dificuldades financeiras para não dar continuidade à gravidez devem ser combatidos. Falta de responsabilidade e de dinheiro não são justificativas para aborto. Aí sim, é uma questão moral e demasiadamente legal combater esse tipo de aborto, que aí sim pode ser encarado como irresponsável e injustificável.
VIVA O ESTADO LAICO E A PLURALIDADE DE OPINIÕES!!!
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